O cinema é uma ilusão de movimentos. A fita, com inúmeras fotos de instantes próximos, nos induz a interpretar os intervalos dessas fotografias, como sendo o movimento. Nossos olhos não diferenciam o movimento natural do movimento artificial. O cérebro humano faz a conexão inexistente entre as fotos estáticas, produzindo a ilusão de movimento, ou seja, vê o abstrato.
Não há uma data definida marcando o início do cinema, pois sempre houve a vontade de criá-lo. Sabemos que aqueles que o iniciaram, ou contribuiram de alguma forma para isso, foram os ilusionistas (mágicos), os curiosos e os oportunistas, que visavam conquistar bons negócios. De início, os homens de ciência não se interessaram pela novidade, pois acreditaram que o cinema seria uma continuação da fotografia, no sentido documental. Ilusionistas como Reynauld e Méliès, e industriais desejosos em tirar proveito da "fotografia animada" - como Edison e Lumière - vislumbraram uma oportunidade no cinema, como uma modalidade nova de espetáculo.
O público ficou maravilhado, o século XIX viu multidões encherem as salas escuras de projeções. Eram exibidas sombras chinesas ou fotografias, animadas ou não. Essas salas de projeções ganharam nomes diversos: phantasmagoria, lampascope, panorama, betamiorama, cyclorama, cosmorama, giorama, typorama, etc.
O início do cinema se deu com um processo de tentativas - erros e acertos - por mais ou menos duas décadas.
O cinema, como um novo sistema de expressão, conseguiu se impor ao ganhar forma industrial, constituindo um mundo paralelo ao da cultura oficial. Ele ganhou várias modalidades de espetáculos derivadas do circo, do carnaval, da magia, da pantomima, da feira de atrações, das aberrações, etc. As lentes de Le Roy, Edison, Paul, Skladanowsky e dos Lumière mostravam um mundo de variações constantes entre o elevado e o baixo, o sagrado e o profano, o masculino e o feminino. No início os filmes eram mostrados como curiosidades nos intevalos de apresentações de circos, feiras ou em carroças. Posteriormente, até os anos 60, eram exibidos em zonas suburbanas ou rurais, e em cidades pequenas do interior dos países economicamente atrasados. Nos grandes centros urbanos dos países industrializados a exibição de filmes se concentrou nas casas de espetáculos variados, onde também se podia comer, beber e dançar: Music-Halls na Inglaterra; Café-Concerts na França; Vaudevilles ou Smoking Concerts nos Estados Unidos. O cinema era mais uma atração entre outras oferecidas na época. Os filmes tinham duração de segundos, nunca ultrapassavam cinco minutos de exibição. A primeira década do cinema não possuía uma linguagem apropriada, sendo necessário uma explicação de um apresentador.
No período de 1895 até meados da primeira década do século XX os filmes registraram os números apresentados nas casas de espetáculos variados, ou contos de fadas, pornografia, etc. Eram classificados como "paisagens", "notícias", "incidentes", "mágicas", etc. O conteúdo dos filmes mostravam cinismo, perversão, e ainda ridicularizavam a autoridade com a inversão de valores morais. O grande herói desse período foi Charlie Chaplin com seus pequenos filmes, mais especificamente "O Vagabundo". Mais tarde, quase 20 anos depois, ele reaparece com o seu personagem Carlitos.
O público do cinema iniciante consistia de pessoas pobres, porque o cinema não refletia as aspirações da camada mais politizada, formada por operários do século XX (classe organizada em partidos e sindicatos).
As casas de diversões mostravam filmes com mulheres de maiôs colantes ou com roupas íntimas, em gestos provocantes. Nos Estados Unidos houve uma reação furiosa na virada do século, levando o governo a proibir as películas destinadas aos quinetoscópios. A guerra ao cinematógrafico chegou a um nível insuportável, forçando os industriais que investiam no setor, e uma minoria burguesa que atuava como: fotógrafo, cenógrafo, roteirista e diretor, a mudarem a realidade.
Buscou-se então um novo público, mais favorecido economicamente e com tempo disponível para assistir aos filmes, ou seja, a burguesia e a classe média.
Essa busca levou ao desenvolvimento de uma nova linguagem, os realizadores buscaram no romance e no teatro o modelo para o cinema. O diretor David W.Griffith levou à tela muitos escritores como Shakespeare, Dickens, Eliot, etc. O primeiro gênero tentado pelo cinema foi o "film d’art", um modelo da França. O gênero nasceu em 1908, com a estréia em Paris, do primeiro filme da companhia Films d’Art - L’assassinat du duc de Guise. Mas esse gênero de filme não conseguiu se impor como forma dramática autônoma, no sentido erudito do termo, e da eloqüência de outras formas expressivas (sobretudo o teatro). David W.Griffth, com seus dramas psicológicos de fundo moral, realizados no período em que esteve a serviço da Biograph, apontou para a direção de maior sucesso.Os vícios e os delírios do cinema anterior, embora constando ainda da tela, passaram a ser mostrados numa perspectiva salvacionista: o mal continuou sendo representado na tela, porém realçando o lado oposto, iluminado, o da virtude.
Assim foi o início do cinema, tão desejado e idealizado por muitos.
Bibliografia recomendada:
MACHADO, Arlindo – Pré-cinemas & pós-cinemas. Campinas/SP:Papirus, 1997.SABADIN, Celso – Vocês ainda não ouviram nada. A barulhenta história do cinema mudo.São Paulo: Lemos Editorial, 1997.
COSTA, Flavia Cesarino. O primeiro cinema. São Paulo: Scritta, 1995.
XAVIER, Ismail – O Discurso Cinematográfico: A Opacidade e a Transparência. Paz e Terra: RJ, 1977.
Fotografia: iternet.
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